S t a g e 4 3

quinta-feira, 5 de maio de 2011

XXXXXXX

“Lá está ela. Sangue seco nos lábios rachados, olhando a estrada como se não visse nada à frente. Eu poderia ficar olhando para sempre. Olhando, olhando, olhando. Cansei de olhar!



Para onde iremos agora?”






“Não podia entender porque eu estava tão fora de mim. Enquanto aqui o sol nasce laranja, lá Brasil a lua nasce mais prateada. Ainda sinto o cheiro e escuto as palavras.


- Tengo que regresar a Brasil. ¿Ustedes esperame?“






“Antes tivesse acertado em minha cabeça! Vagabunda! Isso é hora de lembrar de passado? Ela escondeu minha arma. Deve ter planejado tudo isso. Se o calor já não basta, que vá! Pedi que me deixasse no hotel mais próximo e que fosse sem voltar.”






“Nunca esperei ingratidão depois de tudo que fiz, mas não me importo. Assim, logo estacionei e desci as malas. Ajudei-o até o quarto e sentei-me à penteadeira, separando com pressa roupas para um banho. Ele na varanda.


Deitei com uma garrafa e o velho livro de capa sem nome. Bêbada, dormi em sono profundo.


Sol na cara. Era de manhã e a primeira imagem foi ele debruçado na cadeira, ainda no mesmo lugar.


Em silêncio terminei minhas malas, somente minhas agora. Soltei o cabelo e olhei para tras. A chave está na cabeceira. Até mais tarde.”






“Dor de cabeça infernal, braços doloridos e um merecido espreguiçar. Nada no quarto. Nada no banheiro. Nada. Sentei na beira da cama com a enorme faixa de sol que cortava o cômodo. Hoje tem vento nas cortinas. Acendi um cigarro e pude ver em fumaças os fantasmas que temia. Ela se foi. Ela se foi e com meu carro. Pensei em Juán Pablo. Deve estar lá.


Ao cantar dos pneus, agora o carro é meu, eu quem roubei. Vacas magras na beira da estrada. As coitadas ainda vivas... Já era hora de avistar a casa do velho.


Desci, almocei com ele e num desabafar, fui aconselhado de forma confusa. Agora perdi também o tempo.”






“Quase uma uma hora depois eu cantava alto até avistar um carro pelo retrovisor. Preparei os pentes. Nunca imaginaria que ele viria até aqui, mas reconheci rapidamente. Parei. Pistola na cintura segura pelo shorts apertado. A camisa larga disfarçava encantadoramente. Desceu e veio até minha porta, armado. Seus olhos brilhavam de forma traçoeira.”






30/10/09


“Era boa com facas. Usava-as de maneira cirúrgica, mas num duelo de armas seria fácil demais dar um jeito nisso. Nos ombros, dois diabos. Matei o último anjo a me dizer a coisa certa. Com medo ela é linda.


Quanto mais ouvia ao fundo para matá-la, mais me sentia impotente. Antes de qualquer coisa preciso de respostas.


-¿Cuándo te pierdo?


01/11/09


”Arma e joelhos vão ao chão. Nem a olhava mais. Com os braços sobre as coxas, abri as mãos com as palmas pra cima e procurei entre calos, cortes e linhas aonde ela se foi. Ela já esteve aqui nessas mãos e sem que eu percebesse, escapou entre os vãos dos dedos como areia fina. Lembro do olhar dela quando nos encaravamos de perto. Era quase um desafio.


Levantei-me e limpei a lágrima seca com o pulso. Você será minha!”






10/11/09


”Empurrando-o com a porta, desci e ajeitei as roupas . Levantei a carcaça de um homem sem alma e o guiei até o carro. Voltei ao meu assento e parti. Ataraxia.”






10/11/09


“Engulo cada grão de ódio como quem engole giletes. Agora os raios de luz estupravam minha íris de forma violenta. Vazio e sem rumo. Tanto faz pra onde ir. Seria ele o motivo de sua partida? Um mestiço de merda que ficou antes daqui. Já a abandonou tantas vezes... Como pode ser tão previsível? Respirei fundo e, sem motivo, brotou um sorriso sarcástico. Eu não vou perder pra uma criança.”


02/12/09


“Sob os olhos misericordiosos da Virgem de Guadalupe estamos nós dois. Eu mais a frente e você seguindo a trilha as marcas de pneus. Um calor do qual eu não poderia suportar. Asfalto ardendo. Desci na fronteira.”