S t a g e 4 3

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Parte 1

           "Exibindo-se com a velha pistola prateada, ciente de que dificultava-me a visão ao refletir o sol, colocou-me no banco traseiro entre nossa pouca bagagem. No capô, pôde brincar com linhas compridas sobre a superfície escaldante. Olhava em meus olhos ao sabor de cada uma. Lentamente.
           Já não sinto algo. Nem dor, nem ar. Mal consigo respirar. Sinto-me subindo pelo dólar roubado, talvez fechando sua garganta.
           E para não ficar com a boca amargando, um gole direto no gargalo. O de sempre, tequila sem sal ou limão. Como deve ser, o gosto do deserto rotulado em vasilhames de 1 litro e meio.
           Um sol laranja suportado apenas por quem enxerga o México com nossos olhos. Queira a Virgem que ele não pare de dirigir. Preciso de um médico."

(18 de outubro de 2009)

 


           "Sua pele... Lábios... Tudo com a mesma cor branco morte. O sangue escorrendo. Contraste magnífico, adorável. Talvez eu seja um tanto sádico e ela certamente estaria desmaiada se não fosse tão durona.
           Pelo retrovisor consigo sentir sua dor. Chego a me arrepender por um segundo. Apenas um segundo perdido. Como pude cravar a droga da bala em seu joelho? Ela mereceu! E a cicatriz será linda. Agora não sinto mais nenhum pesar.
           Uma gota de suor escorre em minha testa. Cai em meu colo com barulho e impacto descomunal. Sol, olhos cerrados, falta de ar. Sempre bom tê-la no banco de trás. Não sinto fome ou sede. Tenho desejos mais necessários e vitais no momento.                      
           Ah, olhos denovo para o retrovisor. É linda! Cintura fina, pele ainda clara. Hoje desajeitada e cheia de sangue, faz com que a garrafa fique enorme entre as mãos. A pistola ao lado parece nem ser dela, o que me deixa aflito.

           Malditos abutres voando sobre o carro. Melhor parar e estancar o sangue com mais cuidado. Será que agora ela merece um pouco do veneno amargo?"

(sem data)