terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Parte 2

"Agora as malas estão cheias de sangue. O couro velho e surrado já absorveu parte disso e devemos ter roupas manchadas pra contar estórias. Dó, ao deixar-me aqui deu-me uma garrafa de seu melhor uísque. Piedade é algo que prefiro chamar de oportunidade dada. Não fere meu ego, deixa confortável. Parece que a ferida borbulha o sangue.
Queria lhe cortar a garganta.
Que pode pensar olhando tanto pro retrovisor? Minha sobrancelha esquerda levantada não disfarça a preocupação. Eu poderia usar a última bala, mas o tiro que guardo é para o final. Sangue escorrendo em seu peito, vindo de mim. Partindo do nariz, passando pela boca e pingando, borrando. Deixar marcas pelo caminho até a morte. Um soco a ponto de perder o ar."

(20 de outubro de 2009)


"É como se houvesse um cheiro de carne podre; ódio tomando o todo. Eu poderia acabar com tudo, fugir com tudo. Engatilhei.
Cavalos na estrada. Um último olhar confere minha aflição. Sem tempo para sequer raciocinar, o susto foi maior ao perceber que atirei com a freada. Seu pescoço rasgado. A culpa foi divida entre a distração e a vontade. Preciso dar um jeito nisso e limpar a sujeira antes de procurar qualquer ajuda."

(sem data)




"Os abutres sumiram após o estouro. Era como se aquele sol me tocasse segundos antes de acordar de um sonho. Merda! Apoio a cabeça no volante e esse sangue não vem dela.
"Nós não batemos... Ela atirou." E agora se arrastando entre os bancos, lá vem ela. Mal vejo seu rosto. Não preciso, sei bem como ele é."

(sem data)